terça-feira, 21 de junho de 2016

Há sempre um testo para uma panela


Era feia como uma noite de trovoada. Tinha pelos nas pernas grossos como um capacho do Cairo e dentes podres a assustar os meus tímidos onze anos.
Chamávamos-lhe "O Cancelão" e mudávamos de passeio se a víamos caminhar na nossa direcção.
Ajudava na frutaria que nascera onde o Sr. Alberto, sapateiro, colocava meias solas e protectores nas minhas botas vitimadas pelo futebol, e que desapareceu deste mundo, cansado de uma vida sentado à frente da sovela.
Um dia, o Cancelão, apareceu no braço de um companheiro. Era pequeno, coxo e vesgo e a minha tia Aurora, que era sabida em coisas do Além, sentenciou, do alto da sua cátedra, que há sempre um testo para uma panela.
...
Há duas semanas houve rito de "homenagem" a quem nada fez para o merecer, nem como profissional, nem como pessoa, pois sempre desprezou os aflitos que o acaso (e não só) pôs sob sua alçada.
Também aqui houve quem cobrisse. Uns, só pela festa, "smilling and waving", feitos pinguins de Madagáscar,  e, um ou dois cúmplices no estimular da asneira, que foi a grande parte da sua vida.

Razão tinha a tia Aurora: Não há panela sem testo, nem penico sem tampa!

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