segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Carta aberta a Ricardo Salgado


Caro Ricardo:

Nem sabes o choque que tive quando me disseram que tinhas ido dentro. Porra! Já não há respeito, ou quê?! Já um homem não pode jogar a dinheiro, que vem logo alguém a falar em corrupção e merdas de quem não entende nada de negócios.
Andas há duas décadas a arranjar amigos na nata do país, à esquerda e à direita, onde se acumula quem se deleita a meter as mãos no “pote” e, num repente, aparecem uns borra-botas a ameaçar com tribunais e responsabilidades, como se tu fosses um Vara ou um Dias Lourenço qualquer. O melhor é tirarem o cavalinho da chuva, que tu sabes mais segredos que a irmã Lúcia e se te puserem a cantar lá se vão as elites do país.

Ricardo, se fosse eu, punha-me ao fresco. E era já! Tu deves ter dinheiro em offshores e, com a idade que tens, compravas uma ilha na Grécia e, com algum “suplesse”, dividias-te entre ao sudoeste asiático e um campo de golfe algures, enquanto meia dúzia de "paineleiros a soldo" convencem a populaça que foi "má gestão" e não a fraude e a corrupção, o que esteve na origem da queda do teu Império.
Vai por mim. Era agora, antes de pagares os 3 milhões de Euros da fiança. Faz o que te digo. Um tipo a comer e a beber bem, a passear em 1ª classe e a ficar em Hotéis de 5 estrelas, dificilmente gasta mais que 20.000 Euros por mês.
Faz as contas. Três milhões, dá-te para 150 meses. São doze anos a viver à tripa forra, e, com 70 anos, dá-te e sobra-te, até porque a partir de certa altura vais querer é ficar nos chinelos a ver o Preço Certo ou a Casa dos Segredos, para te relativares.

Se ficares cá, ninguém te vai dar a mão. É que agora há gente lá fora a olhar para a Justiça portuguesa, e se saísses airosamente do caso, era uma bronca com dimensões planetárias.
De nada te vai valer alegar que fizeste como sempre se fez neste país à beira-mar plantado -uns sorrisos para o lado certo, umas cortinas a fazer de conta, um t'agaranto dito com convicção. Vão-te dizer que as regras, agora, são as da Europa, e aí está perdido. Nem o Papa te pode ajudar.

Procura o Relvas. Ele tem conhecimentos actualizados e ensina-te a ter lata para além da tua. Aprendes o Grândola, pões um chapéu à Zé Compadre e, em três anos, até podes andar na baixa de braço dado com o Vara e o Loureiro. A malta cá esquece com uma velocidade surpreendente ou ... perdoa.

Mas se decidires não fugir, vê se te lembras de ofertas de acções a algum político de topo com juros de 150% ao ano, como o Oliveira e Costa. Isso pode ajudar-te. 
Toma  Prozac de manhã, um Xanax à noite e Memofante às três refeições. Diz que tens Alzheimer e que não te lembras de nada. Vais ver que daqui sete ou oito anos, quando te incriminarem, sais em liberdade por doença. 
Vai dando notícias. 

Fernando

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