sábado, 5 de julho de 2014

S. Roque




- É que te digo. S. Roque, na minha região é o santo que se invoca em casos de diarreia.
Ele é de Riba de Ave, onde em 1606, foi mandada construir uma Ermida dedicada ao santo, durante um surto de peste negra para refúgio das pessoas sãs, e onde a 16 de Agosto e 25 de Dezembro, se realizam festas.
Este meu amigo sabia que ele é habitualmente representado em trajes de peregrino (por vezes com a vieira típica dos peregrinos de Santiago), com um bordão onde pende uma cabaça, com uma perna desnudada com uma ferida e um pequeno cão com um pão na boca. Também sabia que ele é padroeiro dos cirurgiões e protector do gado. Mas desconhecia o seu curriculum vitae e foi isso que me fez consultar algumas fontes, para concluir que, apesar de dar nome a numerosas ruas, freguesias, paróquias e igrejas do sul da Europa e da América do Sul, a sua história mitológica é mais fraca que a dos destronados deuses gregos.

São Roque (1295 – 1327) nasceu em Montpellier (sul de França), filho tardio de uma família nobre e abastada, que lhe deu os melhores professores. Não terá completado os estudos em Medicina, e ficou órfão aos vinte anos.
Vendo-se sozinho e herdeiro de uma fortuna invejável, doou aos pobres todos os bens e foi em peregrinação a Roma. Pelo caminho passou por várias aldeias, onde grassava a peste negra, e disponibilizou-se para cuidar dos doentes. Diz-se que obtinha sucesso tratando-os com “um bisturi e o sinal da cruz”.
Atormentado por uma febre violenta e chagas na perna (o bobão da peste), isolou-se numa cabana abandonada numa floresta, onde um fidalgo, para evitar o contágio, lhe fez chegar os alimentos através de um cão.
Quando se reestabeleceu, voltou para a sua terra natal onde foi preso por espionagem a favor do Papa.
Estava no auge o conflito entre Roma (Papa Bonifácio VIII) e o Rei de França Filipe IV, o Belo, pois o Papa não permitia que o rei cobrasse tributos da igreja, e deste cisma resultaria os Papado de Avinhão (1309 – 1377).
O tio, figura importante da cidade, não intercedeu por ele e São Roque morreu ao fim de cinco anos de cativeiro.

A sua morte desperta a devoção popular e a sua canonização não é por decisão eclesiástica. Depois surgem os poderes das suas relíquias (de que Veneza “se apodera”) contra a peste e depois contra tudo o que seja epidemia e até o nosso Rei D. Manuel I, em 1506, solicitou uma relíquia do santo para proteger a população de Lisboa.
Nunca foi em peregrinação a Santiago, pese embora a vieira no chapéu.

Se, de facto, foi espião de Roma em França, não se fala, mas que o tio deve ter ficado furioso por ele se ter desfeito da herança, em vez de se envolver em acções mais consistentes, parece-me melhor justificação que a de “não ter tido conhecimento”, para a sua morte encarcerado. 

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