sexta-feira, 27 de junho de 2014

Correr o fado



- Se do mesmo casal nascesse uma série de sete filhos do sexo masculino e o mais velho não fosse padrinho do mais novo, ou se lhe faltassem algumas palavras no baptismo, o primogénito estaria sujeito a “correr o fado” e, à meia-noite, de alguns dias, sairia de casa sorrateiro, despia-se, deitava-se num local onde algum animal se tivesse espojado e, tomando a forma deste, corria, por caminhos e campos até ao romper do dia, obrigando-se a passar por sete montes, sete pontes, sete fontes e sete portelos de cão. Então voltaria ao mesmo sítio, deitava-se outra vez, recuperaria a forma humana, vestia-se e recolhia a casa, para dormir.
Era um martírio para o condenado mas com um remédio infalível para o terminar. Durante essa corrida era necessário feri-lo com uma aguilhoada para que sangrasse e se purificasse, para assim poder retomar a forma humana e jamais a perder. Era perigoso aplicá-lo, pois caso não fosse bem-sucedido, ir-lhe-ia acontecer uma grande desgraça. O local mais fácil para o efectuar era num portelo de cão (um portelo de cão é uma pequena abertura de passagem colocado num caminho do monte, num muro baixo, em forma de Z com uns 60cm de largo, que de algum modo dificulta a passagem).
Havia portelos de cão em muito lado. Na bouça do Mato, em Guardizela, no Pio Nono também. 
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