sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Carta a António Ferreira



Caro António Ferreira:


Antes de mais, quero cumprimentar-te. És uma raridade, neste nosso Portugal.
Falaste claro, sabendo que irias instabilizar "intocáveis", lançando o tema da ineficiência nas nossas instituições, e falaste do estado a que chegámos, em que os espertos se safam no meio desse "baralho". Não devias ter particularizado os cirurgiões, já que muitos outros, cumprindo ou não o seu horário de trabalho, pouco ou nada acrescentam e até causam disfunção.  
Eu concordo contigo quando falas de quem anda a mamar no Estado inventando soluções para problemas inexistentes ou de quem anda a "fazer de conta" em reuniões sem actas para encher horário.
Há um excesso de "esquemas" no país, pelo que muitos temem que uma qualquer alteração os possa pôr em causa. E, nos tempos que correm, não é para menos, já que poucos acreditam na boa vontade e na legalidade das decisões de quem tem o passado manchado de oportunismos e hoje detém o poder. É que o problema é transversal a toda a nossa sociedade e não específico da Saúde. 

A Ordem dos Médicos já veio a terreiro, como se estivesse isenta, nesta confusão criada pelas Corporações, Partidos, Opus Dei, Maçonaria e outras "forças ocultas" que esgrimem “argumentos” no "Sistema Nacional de Saúde", mas ainda falta muita gente opinar, em bicos de pés, sobre o que conhece ou desconhece.
Para te expores nesse programa, deves estar bem escorado. Mas, mesmo assim prepara-te, porque já te devem andar a planear todo o tipo de rasteiras, para que um dia te dê vontade de mandar tudo às malvas para te dedicares às lagartas do jardim. Ouve o que te digo. Se agora cedes, tramam-te. Escrevem a história "al revés", como dizem os galegos, e até os amigos te abandonam. Agora é andar para a frente, sem merdas. Vais ter de provar que há malandragem a aproveitar a falta de liderança e de fiscalização para fazer a vidinha na maior desfaçatez, desde as oficinas às administrações, que essa gente tem nome, e que os cirurgiões foram só o mote. Podias também falar dos "contratos individuais de trabalho" leoninos feitos à medida dos amigos, se tiveres tempo, espero.

No próximo dia 7 de Janeiro voltas ao programa. Já marquei lugar, pois quero seguir de perto a tua evolução e a dos que ameaças.
Entretanto tiro o chapéu à tua passagem, e faço figas para que tenhas sucesso na moralização do sistema.

Recebe os meus votos de Bom Natal e de Feliz Ano Novo!
Até breve.
Fernando

domingo, 16 de dezembro de 2012

Natal


O presépio. O pai, a mãe e um menino. Três paredes ao alto e um telhado de colmo. Uma família  minimizada. Agora, mais ainda, sem o calor dos animais. Não há avós, tios, irmãos, amigos ou vizinhos. Uma família estranha numa cidade hostil, sem qualquer comodidade. O pai, um velho. A mãe, uma adolescente.
De acordo com a história, o pai não o é de sangue e aceita aquela jovem, para a proteger de uma sociedade onde a sexualidade é vigiada e o adultério punido com lapidação. A viagem de burro de Nazaré a Belém - 50Km de ida e volta, com uma grávida de termo, aparenta mais intenção de levar para longe aquela maternidade sem relacionamento conhecido, que cumprimento de obrigação com censo romano.

No mundo de hoje, centrado no sucesso e na satisfação dos instintos mais básicos, o Presépio, cada vez mais nuclear, adapta-se à nova função e junta-se à festa com o Pai Natal, o Pinheirinho, as Iluminações e as Prendinhas, mais a Lareira, o Bacalhau, as Rabanadas, o Bolo-Rei, os Cuscureis e os Bolinhos de jerimu.
E é melhor assim, porque nesse dia a família fica maior e sorri. Depois cada macaco volta de novo para o seu galho, as crianças para os Infantários e os velhos para os Lares.
O menino irá crescer e fazer-se à vida, esquecerá o pai, precocemente ultrapassado, e manterá a lembrança da mãe nas aflições, já que agora não se usa  o "Aqui d'el Rei!" de outros tempos.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Carta Aberta ao Ministro da Saúde


Caro Paulo:

Ando há meses para te escrever, mas, umas vezes por isto, outras por aquilo, acabo sempre por te deixar para as calendas.

Tu sabes que eu até acho graça a esse teu ar de esfinge assimétrica que só fala depois de todos se calarem, por saber a vantagem que é gerir uma pipa de massa onde muitos vão comer, mas não acredito que te apercebas do que move alguns dos pareceres que te chegam à secretária, principalmente agora, quando se fala em cortar quatro mil milhões de euros na despesa do Estado que inclui alterações no regime da ADSE.

Já deves saber que nas Clínicas e Hospitais Particulares se empolam os de meios auxiliares de diagnóstico, quando o pagante é o Estado, seja ele ADSE, ADMG, ADME, Serviços Sociais do Ministério da Justiça ou da CGD, porque ele não fiscaliza, mas não te vejo capaz de actuar sobre essa malta, porque quem te aconselha come ou espera comer à mesa com eles. O mais certo, é ainda vires a sacrificar quem nada tem a ver com essa corrupção e manteres essas águas turvas no "Sistema Nacional de Saúde”, que queres "sustentável".

Não te esqueças de fiscalizar. Fala com o CDS que ele já andou às voltas com a fraude com o RSI. Só tens de aplicar medidas semelhantes a quem não tem contenção nos exames auxiliares de diagnóstico.

Ontem contaram-me que, num Hospital Particular, depois de quatro consultas, um Electrocardiograma, um Ecocardiograma, uma TAC às Coronárias e até um Cateterismo, disseram a quem se queixava de “cansaço” que não tinha doença cardíaca! A ADSE vai pagar sem questionar e a parte da doente fica difícil de engolir. É que em muitos Hospitais Privados e Clínicas, quando topam “subsistemas” atiram-lhes em cima com o maior número possível de exames auxiliares de diagnóstico para se rentabilizarem. Ora, se não se fazem auditorias clínicas responsáveis (e não daquelas em que se preenchem muitos papéis e não se conclui nada) a saúde ainda fica mais cara, e mais ainda na mão de quem já andou a saquear o Estado anos a fio. Não esqueças que o português típico gosta de fazer muitos exames e ignora o que é eficiência em medicina

Bem. A carta já vai longa. Tu és fino e não queres morrer novo. Vê o que decides, mas não te esqueças que eu descontei para a ADSE e que sempre paguei os meus impostos. É que qualquer dia adoeço e não vai ser agora que vou fazer um seguro de saúde. Fico à espera!

Manda sempre.

Fernando

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Yimou Zhang

O Filme é de 1991 e passa-se na China de 1920. O Realizador é Yimou Zhang.

Há outros filmes do mesmo autor disponíveis no Youtube. Por exemplo “Milho Vermelho”, mas a não perder é "Road Home" - em português "O Caminho para Casa".

Agora que estamos a ser comprados pelos chineses, vale a pena conhecer alguma coisa do seu mundo, principalmente pela mão deste realizador.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A Coroa


Queixava-se de uma dor de dentes generalizada.

Trataram-lhe um dente cariado, mas cedo voltou para se queixar do outro lado. Foi feita nova revisão e receitaram-lhe analgésicos. Não teve melhoria. Na quarta consulta propuseram-lhe desvitalizar um, já tratado, que poderia ser a causa de todo aquele mal-estar.

Aí, começaram as perguntas e, como se temesse um mau-olhado confessou-se. Disse que tinha sido coveiro e que, numa das covas, encontrou um dente de ouro, que só conseguiu arrancar  depois de desfazer o crânio com uma marreta. Que depois tentou vendê-lo numa ourivesaria, sem sucesso. 
Disse também que a mulher o levou ao protésico, para o incluir na sua placa, e que ele recusou, e que desde então o tem guardado na mesinha de cabeceira.
Há dias lembrou-se dele, e associou-o àquele mal-estar:

- Sra. Dra.! Esta dor ... será enguiço?

História de J.R.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Simplificar

Este desenho demorou-me 10 segundos a fazer. A intenção foi representar rapidamente um coelho, sem intuito de produzir obra de arte. Este coelho foi “roubado” ao Dr. Mota Torres, pediatra da minha infância, que o fazia para me conquistar. Usei-o em circunstâncias iguais.
Fruto da repetição, sai-me agora com extrema facilidade.

Também faço burros, elefantes, gatos, cães, galinhas, crocodilos, golfinhos, girafas e até pessoas, porque a mão se foi lentamente afeiçoando a eles, nos períodos enfadonhos dos dias.

Gosto de me sentir capaz de desenhar de memória ou à vista o essencial dos objectos do dia-a-dia, que na maior parte das vezes é o seu contorno.

Considero que representar qualquer coisa complexa por meia dúzia de traços é uma necessidade do homem civilizado. Os traços podem não ser de desenho, mas de escrita, mas a finalidade é a mesma - definir com clareza uma situação.

A complexidade crescente do nosso dia-a-dia, exige dos nossos licenciados um esforço de simplificação, sejam eles professores, juízes, enfermeiros, psicólogos, ou de qualquer área onde o escrever faça parte da actividade.

Aquelas imensas pastas que enchem as secretárias dos nossos tribunais, repartições públicas e escolas, tresandam a ineficiência e a incapacidade, a par de algum propósito (não confesso) em criar dificuldades para vender facilidades.

Os Tribunais andam entupidos por uma lógica que não responde às necessidades de um país moderno.
Os professores atafulham-se em "fichas"  que, para além de atentarem contra a privacidade dos alunos e suas famílias, amontoam dados, sobre os quais raramente se actua, sufocando a actividade docente  com burocracia.
Os registos informáticos nos Hospitais do SNS, agrupam dados de um tal modo, que a sua consulta se torna “impossível” em tempo útil, separando os diferentes grupos profissionais.
Nas repartições públicas frequentemente exige-se mais forma que conteúdo.
Portugal nos últimos vinte anos perdeu muito do seu sector produtivo (agricultura, pescas, indústrias extractivas e transformadoras), e centrou a sua população no comércio e em serviços. Sem simplificar processos, perdeu eficiência e facilitou a corrupção.

Como consequência, estamos a pedir dinheiro à Troika para subsistirmos.
Se não formos capazes de ganhar eficiência, amanhã virão cérebros da China para nos dizer como fazer!

domingo, 2 de dezembro de 2012

sábado, 1 de dezembro de 2012

Últimos Registos

A lucidez que se esvai. A tentativa de vencer a angústia e voltar a ser quem se foi, resistindo teimosamente à doença. O registo possível dos últimos pensamentos.