domingo, 30 de outubro de 2011

Carta aberta a Muammar Abu Minyar al-Gaddafi







Caro Kadafi:
Eu sei que estás bem. Morreste como um mártir, de acordo com o teu desejo, e, por isso, estás rodeado pelas vinte houris “da ordem”. Os teus 69 anos não devem constituir obstáculo, pois Allah já te deve ter providenciado uma boa dose Cialis.
Passaste o crivo dos santos, por os comuns os não entenderem, mas agora o céu é teu e tudo acabou em bem.

Se não gritasses tantos “Allahu Akbar” e tivesses fugido para Portugal com algum dinheiro, tinhas-te safado. Claro que havia que pagar aos advogados e provavelmente saías depenado. Mas estavas vivo e … gordo!
Tinhas muito por onde escolher. Em Oeiras podias aprender imenso. Em Lisboa falavas com o Carlos Cruz ou esperavas pelo regresso do Vale de Azevedo e, até em Felgueiras asseguro-te que não te ias dar mal. Como gostas de armas, podias entender-te bem com o Duarte Lima. Vocês devem ter muito em comum para terem andado à volta da SLN e do BPN !
Tinhas de ser persistente para atulhares os tribunais com sucessivos recursos e aguardar que, aos poucos, fossem prescrevendo todos os crimes de que te acusassem. C’um caraças! Tinhas amigos cá! E dinheiro! E essa malta que te apontou o dedo, “revia a posição” com umas notas no bolso, principalmente se fossem da política. O Sá de Miranda (1481 – 1558) já numa Carta a D. João III nos definia: «Homem de um só parecer, / dum só rosto e d'ua fé, / d'antes quebrar que volver / outra cousa pode ser, mas da corte homem não é!», e a cousa mantém-se. Temos exemplos a toda a hora.

Fizeste mal em não ter vindo. Nós dávamos-te a barraca, mandávamos-te uma chanfana à tenda, púnhamos um “comentador” a falar na TV, e rapidamente te reabilitávamos. Nem tinhas que explicar de onde te tinha vindo a massa. Com sorte até te arranjávamos uma comenda e uma “subvenção vitalícia” igual à do Melancia, e se te tivesses de disfarçar, punhas uns tapetes ao ombro e ias por essas aldeias bater de porta em porta, que ninguém te perguntava nada. Sabes, nós não somos dados a denúncias para não sermos classificados de “bufos”.

“Allahu Akbar”, e tu deves andar remoçado, por esse paraíso fora, tu cá tu lá com os outros mártires, a beber chá de menta, a contar histórias ao pôr-do-sol e à noite … pimba!
Eu não tenho vocação para mártir, mas tenho-me portado bem e espero ter aí, quando chegar a minha hora, um trono onde, vestido de seda e adornado de braceletes de ouro e pérolas, comerei tâmaras e romãs e desposarei donzelas com grandes olhos brilhantes.
Se puderes, manda notícias, que eu por cá vou vivendo como posso.
Até um dia! Fica bem!


P.S. (1/11/2011): Desculpa ter-te falado no Duarte Lima como solução, já que ele deve andar a pensar em fazer hara kiri e sem paciência para te aturar!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Habituem-se!




Um dia um paisano decide fazer um fato, por medida, para um casamento.
Quando, no dia anterior, o vai buscar e o prova, constata que uma aba do casaco está quase dez centímetros abaixo da outra.
Espantado, chama a atenção ao alfaiate.
- “A estas horas, não lhe posso corrigir esse defeito!” responde-lhe este, peremptório, e continua: - “Mas repare, que se o senhor levantar o ombro desse lado o casaco fica direito!

O pobre adopta a posição, certifica-se que o fato fica certo, mas no minuto seguinte surpreende-se com as mangas tortas e o vinco das calças desalinhado.
O alfaiate, não se desmancha e propõe-lhe nova solução:
-“Repare que se atirar o cotovelo para fora e torcer a mão, a manga fica certa, e se meter o pé direito todo para dentro, não se vê uma ruga na calça!”, enquanto lhe mostra o espelho de esguelha e lhe facilita o arranjo para depois do evento.
O desgraçado, contrafeito, face à eminência de não poder ir ao casório, aceita.

No dia do casamento, depois de algum ensaio domiciliário, vai o homem pela rua em direcção à igreja, quando passa por um grupo de designers de moda que comenta entre si:
- “Ainda há quem diga mal dos alfaiates! Olha ali aquele fulano do lado de lá do passeio. Tão tortinho e com um fato que lhe assenta que nem uma luva!”

É assim a vida nos tempos de hoje, a entortarmo-nos cada vez mais para caber no sistema, que dá clara vantagem aos batoteiros.
Os três últimos anos da “era Sócrates” foram um fartar vilanagem para o oportunismo. Se até então poucos obstáculos havia para a progressão da mediocridade, a partir daí qualquer “bicho careto” “trepou” despudoradamente.

Não se espante pois o leitor, se algum “profissional credenciado” lhe propuser que se “torça” para que ele possa continuar a exercer o seu mister.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Ser e o Ter




Ser:
"Em qualquer grupo organizado de mamíferos, independentemente do grau de cooperação, existe sempre luta pela dominação social. No decurso dessa luta, cada indivíduo adulto alcança uma determinada categoria, que lhe confere a sua posição, ou "status", na hierarquia do grupo."
Desmond Morris in "O Zoo Humano"de 1969, capítulo II

Não ofende o Ter que é consequência do Ser (desde que ele cumpra as virtudes), mas dá náusea que, por narcisismo, se tente convencer os outros de que por se Ter se É.

To be or not to be! That's the question!
William Shakespeare - Hamlet (~1600), Act III, Scene 1.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

domingo, 23 de outubro de 2011

Chuva



-“Ninguém rega como Deus Nosso Senhor!”, disse a mulher, na fila do pão, neste Outono que tardava.
Logo de manhã, o vento começara a anunciar chuva, levantando nuvens de pó na veiga seca, sem memória por estas bandas.
Chegou ao meio-dia. Primeiro a medo, depois mais segura, para alegria das hortas e leiras destes povoados.
São os ciclos a funcionar, para que haja renovação e nova vida!
Tão bonito o seu barulho nas vidraças e a dança das árvores lá ao fundo, penteadas pelo vento.
Estás a ouvir?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

1ª Carta a Vitor Gaspar


Caro Vitor:
Nem sei que te diga, pois se eu tivesse que resolver os problemas que tu tens nos braços, fazia o mesmo ... ou pior. Mas o que estás a fazer, não está certo!

Eu sou funcionário público, dos muitos que sempre trabalharam e se envolveram em soluções, e que crêem ter prestado serviços acima da média dos privados. Daqueles que se podiam "ter safado" e não o fizeram e tu viras-te também contra quem recusou a trapalhice da desorganização e/ou cobiça de muitos dos nossos governantes, com a mesma cara fechada com que pensas nos "outros".
Até parece que não sabes que muitos dos que se dizem "privados", vivem há longos anos a sugar a teta de um Estado desgovernado.

Deixa passar o Kadafi e vais ver alguém acorrentado a umas quaisquer grades, com a Comunicação Social em directo a falar em greves de fome. Espera meio ano e vais ver o buliço nos corredores de S. Bento!
Sabes que me apetecia mandar-te "chatear o Camões", mas como ainda estou à espera de alguma ordem na casa, vou ouvindo o teu falar.
Mas não esqueças que eu estou à espera!
Fernando

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O "casão"



- Está! ... Joaquim? Sou eu ... preciso da tua ajuda.
- Olá! Então como está tudo por aí?
...
- Estou a ligar-te porque tenho aqui um caso interessantíssimo. Um doente daqueles que só aparece uma vez na vida!
- Estou a ver! Vai ser uma doença grave e sem solução!
- Muito provavelmente! Mas tenho de confirmar o diagnóstico e é aí que tu entras. Depois se não houver cura, o homem vai sempre necessitar de apoio!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Contratos leoninos



... e para quando a revisão dos "leoninos" Contratos Individuais de Trabalho, que as EPE fizeram com aquela dúzia e meia que se encostou?

Adenda de 26/10/2011:
http://www.google.com/hostednews/epa/article/ALeqM5gIKK_YYlvfRg6zHNMr82Nr_0TjBA?docId=13260811
...e eu proponho-me já para criar um outro intitulado "Movimento de Médicos sem CIT"

domingo, 16 de outubro de 2011

Festa



São assim as festas. Uma sintonia do estar, sem mais pretensões que a procura da felicidade de uns nos outros.
O meu obrigado ao homem das fêveras e às mulheres dos bolos, das entradas e dos vinhos e aos seus pares, por me darem a honra da sua visita!
Bem hajam!
Para o ano há mais, mas melhor! Está prometido!

Mart'nália

sábado, 15 de outubro de 2011

Beleza natural




Estou sentado a escrever no PC, obrigado a olhar o teclado para dar celeridade à escrita, onde só os indicadores trabalham.
Levanto os olhos para ver o texto escrito e dou com elas, de pé, atrás do écran. São mãe e filha. Ambas bonitas, embora sobressaia o branco alinhado dos dentes no sorriso da mais nova. Não dei pela sua entrada. Tinha chamado pelo intercomunicador, mas como não apareceu ninguém à porta, voltei à secretária para acabar o registo do doente anterior.

- Desculpe Dr.! Vimos a porta aberta e entrámos! Estávamos na sala de espera errada e custou a dar com esta sala.
- Não tem mal! Sentem-se se fazem favor! Estava aqui a escrevinhar umas coisas e nem dei por vós. Quem é a doente?
- É a minha filha que tem as mãos todas estragadas! Diz a mãe, enquanto a rapariga se levanta e as estende na minha direcção, com um gesto delicado. Tem vinte anos. É linda, elegante e veste sobriamente uma calça bege e um blusa verde alface de manga caveada. Tem como único adorno um fino fio ao pescoço. Não a estranharia numa capa de revista.
- Onde trabalha?
- Numa estufa de flores!
- A fazer especificamente o quê?
- A tirar ervas daninhas e a cortar flores para serem embaladas! Estão cheias de produtos químicos e eu penso que sou alérgica a um deles. Há alturas em que fico com as mãos cheias de eczema de tanta coceira. E sempre com luvas. Bem pior do que estão agora.
- Desculpe a pergunta. Quanto ganha por esse trabalho?
- O salário mínimo! Pouco mais que 2,5€ à hora.
- E qual é a sua formação?
- Tenho o 12º ano!
...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Adolf Eichmann



Lembro-me do borburinho das conversas e da notícia da sua execução. Creio até que estranhei a “condenação à morte” pese embora os livros de quadradinhos e os filmes de “tiros e bombas e murros nas trombas” em que obrigatoriamente morria metade dos personagens. Mas morte com data marcada, dia, hora e último desejo foi a primeira das muitas que sempre me iriam impressionar. Não que seja contra, mas não consigo ser claramente a favor.
Mais tarde Adolf Eichman voltou ao meu imaginário, para definir uma das minhas abominações. “Sou inocente! Eu só cumpri ordens!”, foi um dos argumentos que invocou ao ser acusado de ter planeado o extermínio total da população judaica da Europa e da União Soviética, ordenado por Hitler.

Ao longo da vida, fui sempre encontrando gente que se desculpa porque “cumpre ordens”, quaisquer que elas sejam, para que a sua “vidinha” melhore ou não seja afectada.
E eu não consigo ser a favor, principalmente quando se ocupam cargos de chefia.

Adolf Eichmann não teve azar. Teve o que merecia.
Mas há outros!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pregar aos peixes



"Dar esmolas atrasa a revolução" dizia, cheio de certezas, o Arnaldo, enquanto eu duvidava do que ele propunha, pois sempre me pareceu "muito impossível" que sobre as cinzas das ditaduras florescecem democracias.
A população é o que é. Tem a cultura que tem, dá valor ao que dá e não é por causa de meia duzia de palavras que vai mudar comportamentos.

Onde a Justiça não funciona ou funciona mal e as normas sociais são a toda a hora ultrapassadas por conveniências de momento, a população sempre sobreviveu aconchegada ao poder.

- Sr. Director, arranje-me um emprego para a minha esposa. Está a ver! Um para cada lado, não dá!
- Sr. Director! A minha filha está a acabar o curso e gostava de fazer aqui o estágio. E depois, se fosse possível ela ficar cá!?
- Sr. Director! Ela era administrativa da instituição, só que agora tirou um curso superior em #. Será que ela não poderia integrar equipe nessa área!?

Aí o Sr. Director mede as suas conveniências e o risco de ultrapassar concurso público, faz cara de preocupado, e adia a decisão, só para não parecer mal dar de imediato o sim ao bispo, ao político do partido no poder ou ao colaborador importante da instituição. E ... soma mais uma vantagem.

"Nós somos as escolhas que fazemos" e não aquilo que propalamos.
É por isso que somos o que somos.

Mas isto é "Pregar aos peixes!".

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Os terços


É uma regra. Um terço para a casa, um terço para o carro, um terço para o resto!
É assim que no ocidente se planeiam os gastos dos cidadãos e … tem de dar certo.

O esforço para a casa é fácil de entender.
O terço para o automóvel é mais difícil de conseguir e, para isso, há a publicidade a toda a hora e em qualquer lugar a forçar a que, até aqueles que o consideram um electrodoméstico com quatro rodas, num momento de fraqueza, adquiram automóveis bem mais caros que o que seria lógico.
É que a máquina em volta dele tem necessidades que geram empregos e receitas com revisões, seguros, impostos, estacionamento mais e mais impostos sobre isto tudo e ainda sobre os combustíveis e as portagens, as lavagens e os acessórios e mais um sem número de actividades onde o automóvel é rei e obriga.
Sente-se uma "mobilidade excessiva" onde ele impera, e a escravização de quem aufere baixos salários e esbugalhou os olhos sem fazer as contas.

É que o último terço é o mais importante, e tem a ver com o que nos melhora: a educação, a saúde e o envolvimento em projectos que nos dinamizem como seres humanos.
É pois fundamental que, em tempo de crise, não o sacrifiquemos e até aumentemos o investimento na educação dos nossos filhos.
Amén!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Sting

domingo, 9 de outubro de 2011

O Guerreiro


- “Avô! É para ti! É a minha prenda! É um guerreiro a descer de para-quedaa!
Não é o primeiro no género. A ideia foi dele. Quem colou foi a mãe.
É feito com partes de ouriços e ramos de um castanheiro-da-índia do jardim de D. Fernando. Os olhos são botões. A boca é uma linha. Tem um escudo e uma arma.
A cabeça é de casca de pinheiro.

sábado, 8 de outubro de 2011

Ibéria


Pablo Alborán e Carminho em Lisboa com um toque de fado.
A Ibéria

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sr. Silva - o Avisador


Não entendo como ainda são mimoseadas pelos comentaristas as tuas "palavras certeiras" e a "atitude responsável" e mais blá, blá, blá ... do teu discurso do passado 5 de Outubro, de gravata verde e fato cinza.
Falas de cátedra ... do projecto europeu e da Europa coesa e solidária como se o teu historial face ao poder económico fosse exemplar.

Governar é defender um rumo honesto, onde os interesses que prevalecem são os da população que te elegeu.

Não te ouvimos falar de Oeiras, porque é um caso de Justiça, da Madeira que é um caso de Política, nem sobre as PPP porque são casos de Economia.

"Avisas" ..., depois de ter acontecido!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Vidas


Nasceu na Ilha da Madeira, em Rabo de Peixe. Não se lembra do pai que morreu quando ainda não tinha feito três anos. Foi criada pelos irmãos, já que a mãe trabalhava ao jornal, de sol a sol, para os conseguir manter.

Aos 16 anos veio para o continente, para Almeida no distrito da Guarda, para a casa de uma irmã mais velha, ajudá-la a cuidar dos filhos e da casa.
Com o 4º ano de escolaridade e sem grandes perspectivas, ao fazer 18 anos, uma cunhada da irmã alicia-a a emigrar para França, para trabalhar em limpezas. Era bonita e não pesava mais de 45Kg.
Partilha com ela o apartamento e as festas de fim-de-semana em casa de um português "bem estabelecido e divorciado", de 49 anos.
Chega em Abril, e em Agosto ele pergunta-lhe:
- Queres viver comigo?
- Porque não?
...
Agora tem 37 anos e ele, com 68, está reformado. Não tem filhos nem amigos próprios e não tem proximidade com os amigos do companheiro. Ri muito e facilmente, como se tudo fosse uma descoberta, numa expontaneidade de criança.
- Ele é ciumento! Se saio sozinha, pergunta logo: Porque demoraste? Onde foste? De que falaram?
...
- É feliz?
- Sim! Gosto muito de trabalhar na minha horta!

Nota: A semelhança com factos reais é pura coincidência

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Fórmula



Em Medellin – Colômbia (1975-1982), o lema era “Ou prata ou chumbo!”.
Tão distante que isso nos parece, e tão perto o vejo nos tempos que correm. Mas não é o chumbo das armas que nos acobarda mas o medo que a pouca prata deixe de correr em nossa direcção.
Os nossos “Pablos Escobar” não necessitaram de cocaína para construírem as suas fortunas. Bastou-lhes saber como saquear um Estado incapaz de cuidar do dinheiro de todos nós.
Depois, se a vaidade os atirou para a política, fizeram como ele. Trabalharam para melhorar as condições de vida da população pobre da cidade, construiram estádios de futebol, financiaram os clubes locais e não esqueceram a Igreja.
É uma fórmula que dá sempre resultado. Em Medellin, em Valongo, em Oeiras, em Felgueiras ou na Madeira.

"Todos temos um preço, o importante é descobrir qual ele é!" era um dos seus lemas. É que “Os homens são capazes de tudo. Até daquilo que ainda não foi feito!”

Se em Medellin/1982, Pablo Escobar tivesse ido a votos ... talvez fosse eleito por maioria absoluta. O governo central é que não deixou.